Para entender a história da região de Kaculo e Kabaça, na localidade da Dunga-Kinanga, na comuna do Quissongo, município do Libolo, província do Cuanza Sul, precisamos viajar a centenas de anos atrás.
Kaculo e Kabaça foram irmãos gémeos, descendentes do grande império do reino Lunga, onde o grande rei se chamava Ngana Nhava. O seu reinado estendia-se aos territórios de Angola, Gabão e aos dois Congos.
O “ministro da saúde” do Reino chamava-se Ngana Nfumuh Lwangu; o “ministro das finanças” chamava-se Ngana Tchissenge; os Makixi do reino (“ministro da defesa e segurança”) era o Ngana Kathoku, auxiliado pelo Ngana Nzulu; o chefe “ministro da agricultura” do reino chamava-se Ngana Ndonga (cuja descendência deu origem ao reino do Ndongo até Caculo e Cabaça); o “ministro da acção social, comércio e urbanismo” chamava-se Ngana Matamba, cuja descendência deu origem ao reino da Matamba.
Depois de vários anos, o reino Lunga começou a sofrer divisão por conta da injustiça e ganância. O primeiro a afastar-se do reino foi Ngana Nzulu com a sua família, criando sua tribo que se instalou no sul, depois o Ngana Nfumuh Lwangu que ocupou o norte, constituindo a sua tribo.
Centenas de anos depois, o Reino de Lunga foi dividido em três partes: Reino do Kakongu, Reino do Ngoyo e Reino do Lwangu. Depois de muito tempo os dos netos de Ngana Nfumuh Lwangu, mudou o nome do reino para Mbanza Ya Kongo. Com a mudança do nome do reino, o Ngana Tchissenge, junto dos seus irmãos Ngana Kathoku e Ngana Ndonga, afastaram-se e ocuparam o leste de Angola e Nordeste da Zâmbia, construíram o seu reino Tchokwe, que depois evoluiu para Lunda Tchokwe. Não durou muito tempo, Ngana Kathoku, separou-se do reino Tchokwe, e construiu o reino Kathoku, o neto de Ngana Kathoku chamado Ngana Mulundu, fez golpe da Coroa porque queria ser o rei do trono e mudou o nome para Reino do Bailundu.
Ngana Matamba separou-se do reino de Lunga e construiu o seu reino com nome Reino da Matamba.
Os filhos de Ngana Ndonga, Ngana Nfumuh Mwalangu e Ngana Ndongo, criaram uma aliança e construíram o seu reino conhecido como reino do Thongu, que tempos depois se passou a chamar Reino do Ndongo, em homenagem ao pai Ngana Ndonga.
Ngana Nfumuh Mwalangu teve seus filhos que se chamavam Ngana Ngombeya Tchiriatah e Ngana Tchitendeh Tchangungu que resolveram mudar-se para sul do rio Kwanza passando pelo Kutenda Mbuizu, atualmente Quedas do Mbuizu, e ocuparam a zona montanhosa a sul do rio.
De Ngana Tchitendeh Tchangungu, descendeu seu filho Ngana Kuku Tchitemoh Tchiriamuh, e deste descendeu Ngana Kassabah Kajinganah. Foi de Ngana Kassabah Kajinganah e sua esposa Kutembu Kya Kuku que descendram os gémeos Kaculo e Kabaça e seu irmão Kaxinda Kahingongu.
Os gémeos são símbolo de poder e honra. Foi assim que o lugar foi transformado num santuário do poder da Ancestralidade e Espiritualidade.
Ngola Kiluanje, descendente de Ngana Ngombe, filho do Ngana Ndongo, neto de Ngana Ndonga, assumiu o trono do reino do Ndongo, que tinha a região de Kaculo e Kabaça como Santuário da força, poder e espiritualidade ancestral, na parte sul do rio Kwanza, território de seus parentes, filhos descendentes do Ngana Nfumuh Mwalangu irmão do Ngana Ndongo.
Tendo em conta o poder que lugar tinha, o reino da Matamba, entra em conflito com o reino de Ndongo para receber o território. Foi assim que o Ngana Kaculo, filho de Ngana Kassabah Kajinganah com a Kutembu KyaKuku, resolveu mudar-se para o norte do rio Kwanza junto de seu parente Ngola Kiluanje, baptizando as quedas no rio Kwanza com o nome de Kaculo Kabaça, sendo a passagem de sul para norte e vice-versa.
Ngana Kabaça e Ngana Kaxinda Kahingongu permaneceram na região fazendo fronteira com o reino de Ngana Mulundu, atual Reino de Bailundo.
A desunião do reino Lunga, teve como consequência, o surgimento de várias ramificações de reinados e línguas dos Bantus como: Swaíny, Nzulu, Nhombe, Kissolongu, Kingala, Kimbundo, Humbundu, Tchokwe e outras variedades.
A imponente obra arquitetónica natural, pedras de Kaculo e Kabaça, ficam localizadas no bairro da Kinanga/Kilumbu no Quissongo Cuanza Sul.
Segundo Ngana Anacleto Kiawiku Mungu, Soba grande da Banza do Quissongo e Ngana Viana Nascimento, Soba da Kinanga, altas autoridades tradicionais que nos levaram até ao Santuário da Ancestralidade (Pedras de Kaculo e Kabaça), depois de procederem a rituais de comunicação com os ancestrais, pedindo autorização para chegarmos às três pedras denominados Kaculo, Kabaça e Kaxinda, contaram o seguinte: este local foi um dos grandes Santuários da Ancestralidade do poder tradicional e da Espiritualidade do Reino do Ndongo, na era pré-colonial africana, criado pelos ambundos, e cujo nome inspirou o nome do atual Angola.
As Pedras de Kaculo e Kabaça, conhecido como o Santuário da Ancestralidade ao sul do Reino do Congo, entre os rios Dande e Cuanza, a leste de Matamba e Lunda e ao norte de Quissama.
Foi o Santuário de adoração e busca de poderes de Ngola Kiluanje, no início do século XII.
As nossas autoridades tradicionais, destacaram ainda, exemplificando o actual Santuário da Mamã Muxima, um lugar de muita procura de fé, cura e bênção. Tradicionalmente, assim foi nestas pedras, povos e sobas que vinham de outras Banzas em busca de poder.
JARDIM DO ÉDEN
No topo da montanha, entre as três Pedras Kaculo, Kabaça e Kaxinda, encontramos o famoso Jardim do Éden. É um pomar com várias frutas, quem a visitar com outras intenções e medo, não tem acesso à água e às frutas. Se o visitante escolher um tipo de fruta para comer já não pode escolher outro tipo diferente sob pena de sofrer consequências tradicionais.
No local fomos aconselhados pelas autoridades tradicionais e pelo chefe de Secção da Cultura, Contreiras Canhanga, a máxima atenção quanto a este aspecto e a obedecer às regras tradicionais para não surgirem outras consequências durante a nossa visita ao Santuário da Ancestralidade, Poder Tradicional e Espiritualidade.
Fizeram parte da excursão 20 elementos, acompanhados pelo Ngana Anacleto Kiawiku Mungu, da Banza do Quissongo. Partimos da vila de Calulo às 10h e chegámos à aldeia da Kinanga às 11h:30. Fomos recebidos pelo Ngana Viana Nascimento e às 12h deixámos as viaturas e partimos a pé com destino às Pedras de Kaculo e Kabaça. Escalámos a montanha Mussoxi, com mais de mil metros de altitude. No topo da montanha já tínhamos a visão panorâmica das pedras Kaculo e Kabaça, uma imponente obra arquitetónica proporcionada pela mãe natureza.
TÚMULOS EM TORNO DAS PEDRAS
Ainda existem túmulos no local onde foram enterrados os seguintes grandes Matatas: Ngana Ngombe Tchiriatah; Ngana Tchitendeh Tchangungu; Ngana Kuku Tchitemoh Tchiriamuh; Ngana Kassabah Kajinganah; Kutembu KyaKuku; Ngana Kabaça e Ngana Kaxinda Kahingongu.
Os povos autóctones de Kalulo, Kissongo e Cabuta são de origem do reino do Ndongo, descendentes do Ngana Ndongo, filho do Ngana Ndonga. Os autóctones da Munenga são provenientes da Zâmbia, descendentes do reino Tchokwe da linhagem do Ngana Tchissenge. No final todos são descendentes do Ngana Nhava, rei do reino de Lunga.
Com chegada de Diogo Cão, à foz do rio Zaire, em 1482, os conflitos entre reinados intensificaram-se. A título de Exemplo: Ngana Kandymba, do reino do Bailundu, foi o traidor dos Lubolus, ao colono.
Tendo em conta a especificidade da sua fauna e flora e a importância cultural da região, os povos foram corridos pelos holandeses e abandonaram o santuário. Isto nos contou Ngana Anacleto Kiawiku Mungu, Soba Grande da Banza do Kissongo.
O Rio Lumono, serpenteia a montanha. Segundo Ngana Viana Nascimento, Lumono significa lugar onde o visitante repousa para beber água depois da difícil excursão e tira todas dúvidas. O cansaço é então banido pela felicidade de ter encontrado o santuário do Poder da Ancestralidade, e Espiritualidade.
No dia 07 de Novembro de 2024, por via de um despacho da governadora, foi constituída uma equipa multisectorial e a empresa CGGC, construtora responsável da barragem Caculo e Cabaça, com objecto de se fazerem estudos para a região ser elevada a uma Reserva Ambiental, como fez saber Pascoal Álvaro, gestor social da referida empresa.
Escrito por: Dásio José Francisco
Fontes: Autoridades Tradicionais da Região
VEJA AQUI O VÍDEO DA EXPEDIÇÃO ÀS PEDRAS GÉMEAS
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